Profissionais de diferentes áreas da comunicação, o professor universitário na Universidade Braz Cubas, Cláudio Luis da Silva¹, 55 anos, e a jornalista do jornal O Diário do Alto Tietê, Fernanda Cassia Fernandes², 26 anos, concedem entrevista ao estudo, expondo suas opiniões a respeito de Truman Capote.
1 - O que você tem a dizer sobre o livro “A Sangue Frio”?
Silva: O livro A Sangue Frio de Truman Capote é uma referência para o jornalismo. Ele aborda os fatos de uma maneira no qual o repórter se doa na retratação do fato jornalístico. É uma mescla de documentário com literatura, também chamado jornalismo dimensional. Isso faz com que essa referência seja estudada, seja um dos balizadores da atividade jornalística do ponto de vista profissional.
Fernandes: Li o livro pela primeira vez há três anos, e fiquei muito impressionada e intrigada em ver como uma família metodista trabalhadora e caridosa terminou tragicamente assassinada por dois ex-presidíarios. O autor conduz os leitores aos detalhes bizarros do crime, porém sua obra deixa várias perguntas sem respostas.
2 - Por que Truman é considerado o pai do novo jornalismo?
Silva: Porque ele propõe um jornalismo com abordagem diferenciada, mais contextualizada.
Fernandes: Truman ficou famoso como o menino prodígio da literatura americana. Aos dezessete anos terminou os estudos, se emancipou, voltou para Nova Orleans e começou a escrever; publicou seu primeiro conto em 1944, ganhou o prêmio Henry. Acredito que pela fama e sucesso, os novos jornalistas queria ser igual a ele, por isso o titulo de “Pai”.
3 - Você acredita que Truman Capote foi imparcial nos relatos do livro? Se não, justifique.
Silva: Esse conceito da objetividade no jornalismo é mais conceito mesmo, na prática, porque é difícil você ser completamente objetivo, pois quando você vai retratar os fatos é um exercício que você faz de retratar em referencialidade, ou seja, em terceira pessoa tendo o fato jornalístico como uma referência social. Ao retratar essa referência em terceira pessoa você também coloca você também projeta as suas experiências, suas experiências de vida, suas experiências na formação técnica e profissional, e tudo isso vai também de certa forma dourar segundo a sua visão de realidade, visão de mundo. Evidentemente que a busca da objetividade é contar como o fato aconteceu sem inventar nenhum aspecto, mas isso quer dizer, a escolher um evento ao invés de outro, você vai colocar aquilo que você julga ser mais importante e você só julga segundo aquilo que você pensa. Então a busca da objetividade no jornalismo é um mito ai ser alcançado e dificilmente o será.
Fernandes: Sim, a imparcialidade de Truman no livro esta nítida, ele ficou muito “em cima do muro”.
4 - Já ouviu falar sobre o possível envolvimento de Truman com um dos assassinos mencionados no livro? Se sim, acredita que o autor teria omitido informações devido a este envolvimento?
Silva: Fala-se muito sobre isso, é difícil afirmar que ele teve algum tipo de envolvimento. Eu não posso afirmar, seria leviano se falasse que tudo indica que sim e tal, mas o que eu acho interessante é esse mistério, essa coisa de que ele poderia estar envolvido mas que você nunca saberá de fato, mas o que importa na verdade não é se ele tinha um envolvimento ou não, o que importa é como ele trabalhou, como ele transmitiu essa história, para que o leitor pudesse crescer intelectualmente, de ramo profissional se for um jornalista, qual a contribuição técnica que ele acrescenta para sua cidade, o que é mais importante.
Fernandes: Sim, sim (risos). Acredito que não só eu como todos os fãs de Truman já sabem e creditam num relacionamento entre ele e um dos assassinos citados no livro, acredito ser provável que ele tenha omitido fatos, devido seu relacionamento pessoal com o mesmo.
5 - Capote era considerado polêmico e se envolveu com drogas; tem alguma ideia do que o levou a se drogar? Acredita que a infância turbulenta dele tenha interferido em seu futuro, que aparentemente era promissor?
Silva: É justamente, o que aconteceu com Capote, é quando o profissional se mistura com o pessoal. Tem profissional que deixa muitas vezes o pessoal aflorar e outro profissional que retrai mais o pessoal, o Capote não, ele vivenciava isso a
mesmo tempo, num caleidoscópio, num mosaico de realidades, ele trabalhava tudo isso em pró ao jornalismo, isso que era interessante. Se ele era assim obviamente ele vivenciou sua vida de uma maneira muito intensa, então eu acredito que esse é o grande legado de Truman Capote, para gente que é jornalista e para sociedade.
Fernandes: Provavelmente os problemas de Capote com drogas tenham sido influenciado por seus pais; uma mãe alcoólatra e um pai viciado em sexo não foram as melhores influências.
6 - Qual a importância do livro A Sangue Frio na história do jornalismo?
Silva: A importância está como um caminho, um caminho na maneira como se fazer jornalismo, você tem o jornalismo de noticiário, jornalismo chapa branca e o jornalismo de Truman Capote, que é contextualizado e que mescla essa vivência toda, essa entrega toda do profissional no exercício da sua função.
Fernandes: Acredito que para o jornalismo investigativo, o livro tem muito a ensinar, mas para uma redação comum, onde os cadernos são variedades, cidades, artigos de opinião, especial e outros, o estilo literário de Capote não é muito funcional.
¹- Formado em jornalismo pela Universidade Braz Cubas e pós-graduado nas universidades Braz Cubas, Usp e Casper Libero.
²- Formada em publicidade e propaganda pela Universidade Mogi das Cruzes e estudante do sexto semestre de jornalismo na Universidade Mogi das Cruzes.
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