domingo, 1 de dezembro de 2013

"A Sangue Frio"

“Era uma cena horrível. Aquela moça maravilhosa – mas não dava nem para reconhecer. Tinha levado um tiro de espingarda na nuca, a uma distância de uns cinco centímetros. Estava deitada de lado, de frente para a parede, e a parede ficara coberta de sangue. As cobertas estavam puxadas até seus ombros (...) Então seguimos até o final do corredor, a última porta, e lá, na cama dela, encontramos a senhora Clutter (...) Sua boca tinha sido fechada com fita adesiva, mas ela tinha levado um tiro à queima-roupa no lado da cabeça, e o disparo – o impacto – tinha arrancado a fita. Os olhos estavam abertos. Bem abertos, como se estivesse olhando para o assassino. Porque ela deve ter visto quando ele se aproximou e apontou a arma. (...) Kenyon estava num canto, deitado num sofá. Tinha sido amordaçado com fita adesiva, e seus pés e mãos tinham sido amarrados, como os da mãe. (...) Sua cabeça estava apoiada por duas almofadas, aparentemente enfiadas debaixo dele para torná-lo um alvo mais fácil. (... )Bem, eu olhei para o senhor Clutter, e foi difícil tornar a olhar. Eu sabia que um tiro não bastava para responder por todo aquele sangue. E não estava enganado. Ele tinha levado um tiro da mesma forma que Kenyon – com a arma bem na frente do rosto. Mas é provável que já estivesse morto quando levou o tiro. Ou, de qualquer maneira, que estivesse morrendo. Porque também lhe tinham cortado o pescoço”. (CAPOTE, 1975, p. 93-96).
           
Capote narra com detalhes a história do assassinato brutal da família Clutter, que aconteceu na cidade de Holcomb, oeste do Kansas em 15 de novembro de 1959 nos Estados Unidos. A pesquisa para a elaboração do livro começou um mês após Truman ler uma curta notícia sobre o caso no New York Times, notícia essa que levou Capote a Holcomb para obter mais detalhes sobre o assassinato.
  A pesquisa de Truman durou quase seis anos. Durante esse período Capote entrevistou familiares e amigos das vítimas e dos assassinos, leu cartas e diários, recolheu documentos oficiais, e todo o trabalho da escritura foi feito sem registros (Capote dizia conseguir guardar palavras e fontes em sua memória, com uma precisão de 95%).
Utilizando características de um romance policial, quem desvenda toda a história é a personagem do detetive, que esmiúça os detalhes através de pistas e indícios. Truman transformou uma pequena notícia em um livro que ficou conhecido como o primeiro do gênero de romance de não-ficção.
Capote criou um quebra-cabeça, mudando bruscamente os cenários, personagens e ações ao decorrer do livro; a história vai se alinhando aos poucos, e a essa forma de sequência, o autor denominou trabalho com a estrutura da narrativa (trechos aparentemente desconexos, mas que em certo momento se convergem).
A riqueza de detalhes do livro que mostra a reação de uma cidade de duzentos e setenta habitantes ao crime, a investigação incansável da policia local, e os passos dos homicidas durante a fuga, prendem a atenção do leitor até o desfecho que levou a prisão de Richard Hickock e Perry Smith meses depois do crime, tempos depois condenados à morte.


“E aconteceu, portanto, que nas primeiras horas daquela manhã de quarta-feira, Alvin Dewey, tomando café num restaurante de um hotel de Topeka, leu, na primeira página do Kansas City Star, uma manchete por ele havia muito aguardada: CRIME SANGRENTO TERMINA COM MORTE NA FORCA.” (CAPOTE. 1975, p 408).


CAPOTE, Truman. A Sangue Frio (In Cold Blood). 1º Ed., São Paulo: Abril.S.A, 1975. P. 93-96, 408.

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